quinta-feira, 18 de novembro de 2010

Pachelly Jamacaru, entrevistado pelo Advogado do Diabo: Dihelson Mendonça

Tempos atrás, enviei um email a Dihelson com o propósito de entrevista-lo, mas,
Recebi dele um comentário em que o mesmo começa assim....

Querido Pachelly,
"Eu queria até iniciar contigo um debate aqui nos Blogs sobre fotografia, em que eu faria o papel do advogado do diabo, a fim de mostrarmos o quão abrangente é a fotografia.
São perguntas e críticas que eu faria às fotos, e você tentaria justificar, ou você faria e eu responderia também.”


E assim foi que o meu querido amigo se safou da entrevista que formulei para ele! Terminou que o entrevistado ficou sendo eu, eh eh eh eh!

O importante é que de uma forma ou de outra, trazemos este saudável exercício de reflexão sobre a fotografia. Eu que sou adepto de que obras de artes falem por si, me vejo aqui verbalizando, melhor, dando resposta por escrito sobre o assunto. O que esperamos ele e eu, é que as pessoas peguem carona e cheguem juntos, e contribuam para uma melhor compreensão do que se pensa a respeito de fotografia no Cariri.

Então vamos lá Dihelson Mendonça, advogado do diabo!

Adv. Dbo.
Por exemplo, o que é Fotografia?




PJ.: Tecnicamente, a distribuição de tons claros e escuros numa superfície plana, com largura e altura. A sensação de primeiro e segundo plano, ocorre pela distribuição dos elementos de composição, o equipamento utilizado, a distância entre os elementos.

Pelo Wikipédia, seria: A palavra Fotografia vem do grego φως [fós] ("luz"), e γραφις [grafis] ("estilo", "pincel") ou γραφη grafê, e significa "desenhar com luz e contraste"..[1] Por definição,[2] fotografia é, essencialmente, a técnica de criação de imagens por meio de exposição luminosa, fixando esta em uma superfície sensível
Mas é claro que o nosso diabinho advogado, não quer esta resposta, ele quer um conceito e aí é entra que ele não terá uma resposta, mas infinitas delas, impessoais por sinal.

Por exemplo:
Para o Sebastião Salgado seria mais ou menos assim: “Temos na fotografia o poder da síntese de tantas coisas ao mesmo tempo: a cultura da pessoa que está fotografando, a ideologia, o momento histórico vivido pelo fotógrafo e as influência sofrida por este. É a fração de segundo representativa”.

Para Tiago Santana seria mais ou menos assim: "O grande desafio da fotografia é a aliar: Emoção e razão! Sem emoção, pulsação, vibração, a foto não se sustenta. É uma visão do mundo com personalidade".

Para Pachelly Jamacaru, seria assim, mais ou menos: Fotografia é uma extensão da vivência amadurecida do fotógrafo. Um instrumento de comunicação e interação que imprimi uma linha de pensamento ou uma filosofia, ou... ou... ou...

Mas a fotografia em si não precisa necessariamente ser justificada, pois encontra num e noutro espectador, uma gama de interpretação dela mesma!

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Adv. Dbo.
Ando pensando muito nisso nesses dias. O que caracteriza a boa fotografia e a má fotografia?




PJ.: Uma foto se completa no espectador, e aí gera-se um subjetivismo sem precedente!
A própria foto diria assim: Sou o que sou, nem boa, nem má! Mas poderei vir a ser bem resolvida ou mal resolvida! Você me olha e eu te remeto a um dialogo entre você e eu. Faço você repensar sobre o que você está vendo em mim, te questiono e faço você me julgar! Posso ti situar no tempo ou no tempo em que fui concebida. Posso ser odiada ou amada pelo estado de espírito de quem me observa!
Eu sou cria do meu fotógrafo, converse com ele e busque saber por que e como ele me gerou! Talvez ele nem tenha a obrigação de te responder!


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Adv. Dbo.
Fotografia virou uma área do conhecimento, uma filosofia. Há tantas correntes de fotografias, tantos estilos que a coisa toda está muito "embolada".

PJ.: Tudo que se questiona, filosofa-se! Assim como na pintura e outros segmentos artísticos, a fotografia é ampla porque somos amplos! Não sei se anda mesmo embolada, pra mim, vejo-a distinta e inconfundível! Prefiro entender que contenha estilos à correntes!

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Adv. Dbo.
Existem as artes visuais, de maneira geral, e hoje a fotografia está cada vez mais próxima de ser uma parte mais homogênea das artes visuais, pois não se concebe mais uma foto pura, sêca sem alterações como era há muito tempo. Quero dizer que a fotografia é uma coisa lúdica. Ela nunca representa de fato a realidade, e quando representa, muitas vezes não tem impacto.


PJ.:Ela não tem a obrigação de fazer literalmente o papel de Deus em sua suma perfeição! Ela retrata e às vezes simula. Como poderia ser pura se os meios não são e nunca foram! A fotografia nunca deixará de ser uma alquimia e, nunca deixará de passar por etapas até a sua finalização. É uma engenhosidade do ser pensante, criando ilusões no dorso da realidade!

Existe quem faça confusão entre o ato de fotografar, os meios pelos quais e o
produto final.

O ato é inerente à tomada de decisão do fotógrafo, que escolhe seguindo a sua consciência, o que e o que não, o porque e porque não de fotografar isso ou aquilo. Isso sim, nunca deixará de ser, eu não diria puro, mas representativo de si mesmo!

Os meios, estes sim, estão a toda hora evoluindo. Essa evolução digamos, tecnológica, não é criada pelo fotógrafo propriamente, mas por aqueles que entendem as suas necessidades. E aí criam a todo instante recursos, máquinas fabulosas, mas não criam a fotografia em si, do ponto de vista criativo!

O produto final, e aí é onde entra à questão, este pode vir a ser manipulado a ponto de sofrer descaracterização em parte ou totalmente. A fotografia, produto pré- concebido intelectualmente, idéia primeira, poderá então torna-se matéria prima para a arte-visual. Assim entendo.
Acho aceitável fazer correções básicas e essenciais à compreensão do que foi buscado no ato do fotografar. Manipular resultado artificializando o contexto, inserindo ou excluindo elementos que não estava na composição original, isto sim, é questionável! Sugiro que tal fotógrafo defina-se com artista plástico operando sobre a fotografia! A fotografia é instantânea.

A fotografia, não deixa de ser uma arte visual. Já dar-se ao luxo de ser tateada! O que não se concebe, pra mim, é o raciocínio: Ah, se eu não sei fazer, ou não tenho como, vou ali, na “loja do PHOTOSHOP” e resolvo o problema!
Tem uma palheta lá que é uma maravilha... A gente transforma, desloca, inseri, extrai tudo!
Estudar para que? O Photoshop não vai sequer questionar minhas decisões mentirosas? Com ele, eu sou o cara!

A questão não é ser purista, mas existe uma coisa chamada: Bom senso e autocrítica, quem não tiver pra si ou fizer de si, tem que engoli dos outros!

Eu tenho que, fotografia é o ato e não o trato! Mas também em nome da fidelidade não se permitir a correções mínimas como: Ajuste de contraste, nitidez, correção de cor, brilho, aí concordo, beira o radicalismo!
E, não sou lá tão radical assim não, pois entendo que até no próprio tratamento, imprime-se uma leva da personalidade do fotógrafo.


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Adv. Dbo:
Estou lendo um livro muito bom, em que o autor diz que fotografia não deveria ser somente para registrar o "Eu estive lá", e sim para mostrar uma maneira pessoal do "eu estive lá e vi de uma certa maneira".. Essas perguntas, tem me chegado nesses dias, principalmente ao ver certas fotos, como aquela foto sua do Padre Cícero dentro da árvore. Porque fazer uma foto assim?

Na verdade, a estátua não está dentro da árvore. E aqui faço o papel de advogado do diabo: Não seria meio forçação de barra inventar coisas irreais para que o mundo pareça cor-de-rosa ?



PJ.: Esta poderia muito bem estar respondida por suas próprias palavras, rs rs rs...
“Com o tempo, cada fotógrafo começa a desenvolver um modo de ver o mundo, e escolher aquilo que mais se adapta ao estilo, descartando as coisas mais óbvias.”!
Dihelson Mendonça.


Caindo em contradição meu Caro Advogado?

E depois, você concorda que o autor do livro é muito bom, isto porque sugere: "eu estive lá e vi de uma certa maneira"!

Quer dizer então que o advogado do diabo usaria dos mesmos argumentos de seus colegas para defender uma tese? Porque temos digitais diferentes? E se todos os pianistas tocassem a mesma música com a mesma levada, andamento, mesmo arranjo? Porque uns buscam a perfeição e outros não?
Já vi muitos concertos seus interpretando Frédéric Chopin, mas bem à Dihelson José Mendonça!!! Eu poderia julgar que existe algo errado nisso!?

Talvez eu nem saiba mais fazer uma foto explicitamente comum, ou seja, chegar lá, frontalmente e reproduzir a idéia primeira dos cartões postais da cidade!

Agora enxergar diferente sob outro prisma é irreal? A estátua não estava lá? A árvore não? Eu as carreguei e arrumei?
Na verdade não é uma questão de foto com arte, quem sabe um exercíciozinho despretensioso de liberdade de expressão.
Não estava ganhando dinheiro e nem fui, não tinha que ta de cabresto nas regras!

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Adv. Dbo.
Fazer fotos cor de Chumbo, pra quê ? Fotos em Preto e Branco pra quê, se todo mundo enxerga colorido? Porque não deixar as cores naturais falarem por si mesmas?




PJ.: Acho que nossos olhos morem de inveja por não poderem fazer convenções para Preto e branco! Rs rs rs

O que diria os Daltônicos? Ah! Nunca vou fazer uma foto, porque o mundo é colorido e não enxergo todas as cores!

Ora ora, se até os cegos fotografam seu advogado!


O preto & branco, é como uma melodia se queira tocar em Bossa nova, em Rock Rol, em maracatu, tipo samba do crioulo doido! Não está acessível e é uma realidade essa possibilidade? A melodia será a mesma, podendo mudar o ritmo, a harmonia, o arranjo!

Adv.Dbo.
Então é por aí. Se você pensar bem, verá que existem inúmeras linhas de raciocínios e até agora eu não cheguei a nenhuma conclusão. Há coisas e há coisas
Por exemplo:
Uma foto de uma coisa bela faz a fotografia ser bela?



PJ.: Nada deixará de ser o que é ou passar ser outra coisa porque virou fotografia! O fotógrafo procura imprimir fidelidade, este é o objetivo primeiro. Mas fotografia também é truque, mágica, ilusão! E a ilusão, também é uma realidade!
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Adv. Dbo.
Se eu for pra frente do Taj Mahal e fizer uma foto com uma boa máquina, essa foto será boa?


PJ.: No mínimo sairá uma foto do Taj Mahal e poderá ser boa ou ruim, porque não?

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Adv. Dbo.
Claro, muita gente irá gostar de ver a beleza registrada em fotos, por isso que as fotos de por do sol, mulheres bonitas, prédios suntuosos causam satisfação.
Eu lido muito com isso. Faço fotos documentais e me encantam as coisas belas. Gosto de registrar coisas belas, ainda que sejam naturezas mortas, ainda que na arte na fotografia não seja nada de espetacular. A beleza já está na própria imagem. Eu não vou tornar mais bonito o que já é bonito. Isso é uma visão de fotografia. Documentar o belo.
Por outro lado, eu pergunto: Quando Sebastião Salgado fotografa um carro que virou e morreu todo mundo, pedaços de gente na pista, a fotografia é feia?




PJ.: Repito: Nada deixará de ser o que é ou passar ser outra coisa porque virou fotografia! Mas por trás de uma foto está o fotógrafo com propósitos. A fotografia é uma tradução da vida, uma interpretação, um veículo que conduz conceitos e contextos que podem até facilitar a compreensão de uma cena da vida real!

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Adv.Dbo.
Mas muita gente acharia. Só que nesse caso, muitos outros fatores estariam em jogo. A cena pode ser feia, mas o registro fotográfico pode ser bonito.
Uma coisa é uma foto do Cristo redentor, à noite com fogos de artifício explodindo ao redor, na baía da guanabara. Muita gente diria:
Que foto linda!!!
Outra coisa é mostrar uma foto de Bresson de uma mulher, as pessoas comuns irão preferir a foto do Rio de Janeiro. Então é isso, fotografia tem muitas escolas!


PJ.: Correto. A fotografia tem muiiiiiitas escolas. Fotografia advém de um conjunto de fatores que vai desde conhecimento, oportunidade, autodidatismo ou estudos aplicados! Equipamentos, e não obstante eu diria, vocação, sensibilidade! É a busca constante pelo aprimoramento para a correta aplicação do Dom. O fotógrafo tem de saber o que faz e porque faz, senão, será sempre o fotógrafo dos outros e não de si!

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Adv.Dbo.
O que é Arte? Arte seria somente o que é belo? O feio também não seria arte ?


PJ.: Definir arte, talvez seja a coisa mais anti-artistica possível!
Como se defini, culturas, tradições, estilo de vida em questão? Porque arte é a soma de um conjunto de valores, que variam de pessoas pra pessoa, região para região, país para país. O belo e o feio, é uma relatividade.


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Adv. Dbo.
E uma foto feita com uma câmera ruim, não pode ser bela?


PJ.:Engraçado, o advogado sempre defende esta tese, mas não relutou em adquirir o que há de melhor! E não perde a oportunidade de lembrar: “Cavalo e cavalheiro”! Dihelson Mendonça!

Claro, cada um caça com o que tem. E não deixará de ser belo por ser de ruim qualidade! Mas se uma foto foi feita melhor com melhor recurso, com certeza ela será multifuncional e mais competitiva!
Acrescente-se a isso, uma pitada de sorte que sempre cai bem! Ninguém está imune a fazer uma grande fotografia! Nosso advogado que também é um grande fotógrafo, heverá de concordar


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Avd. Dbo.
Uma foto tem que ser bela? Porque que uma foto tem que ser bela?



PJ.: A fotografia não tem vontade própria, somos nós quem lhes damos corpo e alma, atribuímos: Valores, interrogações, exclamações e adjetivos! E não tem que ser, será se for!

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Adv. Dbo.
É meio esquisito deformar o mundo de forma irrealista, para que possamos inventar coisas que se chamam de arte. Não seria isso mera frescura nossa?




PJ.::Gostaria que, Di Cavalcante ou Tarsila Amaral, respondesse esta, ou Picasso com seu cubismo, quem sabe Dali com seu sulrealismo!

Para enxergar a vida como ela é só precisamos dos nossos olhos. Mas, para ver a vida com outros olhos, precisamos de visão! Nada é deformável, mas tudo mais, é transformável!

Acho o termo “frescura” um tanto pejorativo para quem imprime personalidade ao que faz! Não podemos nem restringir aqui somente à fotografia, porque em muitas coisas que move a vida, o diferente faz a diferença!

Reproduzir, Repetir, repetir e repetir o que já fora feito, torna-se um ciclo vicioso! É como o cão que roda, roda, roda, roda , roda, na ânsia de pegar seu rabo e não sai no lugar!
E se ainda fossemos símios! Se o universo não se expandisse! Experimentar olhar diferente, é vislumbrar possibilidades!

É correto Darwinizar-se! Afinal, estas palavras são suas, sobre o seu melhor trabalho:
“Amanhã, pode ser que eu já ache obsoleto e parta para algo bem melhor. E este é o sentido da arte: Evolução.”




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Adv. Dbo.
Depois de pensar muito, para não arriscar ter que definir fotografia de formas erradas, estou definindo hoje apenas como "o registro de imagens a partir de uma câmera fotográfica"


PJ.:Elementar meu caro Watson!
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Ass.
O advogado do Diabo.


PJ.: Considerações finais: Sou um réu confesso de caso de amor a fotografia! Entendo que vários são os motivos que levam o fotógrafo a pertar o botão de disparo: As cores, as formas, uma istória que se conte, uma recordação que se guarde! Fotografa-se por sobrevivência, por hobby, enfim, a fotografia nasceu para todos!

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Abraços,
Abraços.

4 comentários:

Beta Martins disse...

Passando por aq so p dizer QUE MARAVILHA,FOTOS VERTIGINOSAS... ,É FÁCIL GOSTAR TANTO DE OLHA-LAS!
FELIZ NATAL E EM 2011 MAIS FOTOS P NOSSO DELEITE
ABRAÇOS

BETA MARTINS

Pachelly Jamacaru disse...

Querida amiga, Beta martins, estive viajando e portanto, só agora vendo o seu comentário que que como de costume, sempre me alegra, me comove, pois por eles sou lembrado!

FELIZ NATAL sim, que você tenha sempre este coração amável e que a vida seja mais e mais generosa com você!

Abração, FELIZ NATAL!
Pachelly

Magna Santos disse...

Meu amigo Pachelly, apesar de ter respondido seu comentário no Sementeiras, tinha que vir aqui para te desejar novamente:
UM NATAL DE LUZ PARA VOCÊ E SUA FAMÍLIA!
QUE O MENINO JESUS SEJA SUA COMPANHIA CONSTANTE POR TODO 2011.
Muito mesmo obrigada por tudo!
Abração fraterno!
Magna
Obs.:lembrei de você com a foto que Dimas Lins publicou no blog Estradar(link no Sementeiras), por ocasião daquele meu poema.

Pachelly Jamacaru disse...

Beleza Magna, você é uma estrela gigante de luz!

Feliz Natal!

Abração