quarta-feira, 3 de junho de 2009

José Flávio Vieira comenta Pachelly Jamacaru


"As coisas não querem mais ser vistas por
Pessoas razoáveis:
Elas querem ser olhadas de azul,
Que nem uma criança que você olha de ave".


Manoel de Barros


Pálido e parvo diante do esplendor da natureza, o olho humano se vai tornando acostumado, acomodado: busca sempre os mesmos ângulos, o mesmo enfoque, mira sempre na mesma aresta de realidade.
Fitamos o caleidoscópio do mundo sempre pela mesma bitola, pelo mesmo estreito orifício que nos abre a mente para o multicolorido da vida, mas nos hipnotiza e nos fixa o olhar no mesmo foco.
Nossas concepções de feio-belo, de bom-mau estão intimamente ligadas ao alvo que acostumadamente miramos. Só os poetas têm a capacidade de olhar as coisas de azul, de imprimir-lhes alucinação e delírio.
Assim é o Cariri que salta das lentes do nosso Pachelly Jamacaru. O cotidiano sem o embaçamento do filtro pequeno burguês; a estonteante paisagem sem o clichê da trivialidade; a vida que pulsa e explode do ínfimo, do simples, do aparentemente imprestável.
A fotografia de Pachelly nos transporta para outra dimensão das coisas do planeta e nos ensina que há aroma de mangaba nas abas das manhãs; que sabem a pequi os frutos da jaqueira; que há marulho de cascata nas franjas dos luares, que é preciso olhar de ave as primícias desta vida.

José Flávio Vieira

4 comentários:

Pachelly Jamacaru disse...

Recebo estas palavras do Zé Flávio, embargado de emoção. Primeiro porque sei que comenta, é de uma propriedade cultural sem igual. É poético em tudo o que concebe, artisticamente e Doutor, não só por curar corpos doentios, mas, por saber com a sabedoria dos Deuses, fazer sorrir almas enfermas! Pela bagagem cultural de quem salpica de azuis a minha fotografia, é que feito criança, igualmente quero ver ser olhado de azuis, os meus instantâneos.

Obrigado, José Flávio Vieira!

jflavio disse...

Pachelly,

Ficou super legal, agradeço a vc pelo comentário ao texto que devemos mais à poesia do grande Manoel de Barros do que às pálidas palavras que acrescentei.
Um grande abraço

Magna Santos disse...

Em meio a tanto azul, creio que ela parte feliz. E você estava lá para fotografá-lo. Você, de fato, é um enviado. Continue, amigo, a nos mostrar todas as cores possíveis e abençoadas.
Abração.
Magna
Obs.:muito obrigada pelo alerta, aos poucos estou seguindo seu conselho. Muito obrigada, não havia pensado sobre isso.

Pachelly Jamacaru disse...

O Zé é modesto!

Magna, sempre acompanha este blog, e melhor, o faz com espontaneidade! Fico feliz por isso e pelas palavras gentis!

De certo Magna, seu trabalho merece a sua rubrica o reconhecimento de todos! Tem personalidade e criatividade! Então é justo e nos preocupa até, ver que o artista por motivo ou outro esqueceu a sua graça na obra que concebeu lembrá-lo é o nosso dever!
Abraços sempre!